Perfuração de poços muda a realidade de pequenos agricultores

Enquanto o Paraná enfrenta uma das maiores crises hídricas dos últimos 30 anos, a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo, por meio do Instituto Água e Terra, perfura poços artesianos em todo o Paraná, o que está mudando a vida do pequeno agricultor paranaense. Entre janeiro de 2019 e junho de 2020, o Governo do Estado levou água potável a 184 comunidades rurais em 82 municípios.

Intensificado na gestão do governador Carlos Massa Ratinho Junior, o programa Água no Campo vai beneficiar 10 mil famílias – cerca de 40 mil pessoas – até 2022. A iniciativa é uma parceria entre o governo estadual, municípios e comunidades.

Assista ao vídeo da comemoração da chegada da água na zona rural do município de Jesuítas, no Oeste do Estado.

O Instituto Água e Terra perfura os poços e os municípios são responsáveis pela operacionalização (bomba, reservatório, energia e adução) e a solicitação da outorga de uso do manancial.

Pessoas que diariamente percorrem longas distâncias em busca da água para manter atividades básicas de subsistência passam a contar com água limpa e de boa qualidade. Além de melhorar a qualidade de vida, a chegada do programa nas comunidades representa a perspectiva de mais investimentos e o fim de um período sombrio de dificuldades.

O secretário de Estado do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo, Márcio Nunes, acompanha de perto as perfurações e comemora, junto com as comunidades, a abrangência do Água no Campo. Ele ressalta que o programa é muito importante para as vilas rurais e propriedades mais distantes devido à falta de recursos para implantação desse sistema de abastecimento. “Contribuímos com uma parcela importantíssima no abastecimento, facilitando a captação e a distribuição de água”.

Com as minas secas pela falta de chuva, muitos tentam instalar poços cacimbas. Porém, a falta de garantia de alcançar a quantidade necessária de água e o risco de poluição inviabilizam a perfuração. A busca pela água se tornou uma rotina exaustiva para essas famílias, cuja sobrevivência depende da agricultura familiar e da criação de pequenos rebanhos.

Everton Luiz da Costa Souza, presidente do Instituto Água e Terra, explica que o Programa Água no Campo beneficia localidades que não têm acesso à rede pública de abastecimento e é uma alternativa para suprir a demanda, sem sofrer intercorrência das estiagens.

“É uma obra de engenharia de custo relevante, mas, com uma participação pequena da população, uma vez que o Estado assume a execução e municípios com a comunidade a distribuição. Temos as vantagens da qualidade da água subterrânea, redução dos custos de abastecimento e melhoria da qualidade de vida dessa parcela da população”, destaca Souza.

De acordo o diretor de Saneamento Ambiental e Recursos Hídricos do instituto, José Luiz Scroccaro, a escassez da água tem se tornado recorrente com as mudanças climáticas. Ele acrescenta que o poço artesiano é uma alternativa viável e de longo alcance, tanto na melhoria da qualidade de vida como na garantia de produção desses pequenos agricultores.

“Por ser encontrada em estágio mais profundo das camadas do solo, a água dos poços artesianos é menos suscetível às oscilações do clima. Longe da poluição, chega à superfície naturalmente limpa e não precisa de tratamento tradicional, necessitando apenas de uma cloração para manter a qualidade da água nas residências”, pondera Scroccaro.

O diretor disse, ainda, que o convênio firmado com as prefeituras cadastradas minimiza o custo das perfurações para o poder público, sana problemas de abastecimento e garante a sobrevivência das comunidades do Interior.

PERFURAÇÕES – Em 2019, o Instituto Água e Terra possibilitou a instalação de 128 poços. A meta para 2020 é de mais 120 perfurações em diferentes regiões. Na segunda quinzena de junho as equipes trabalharam em Siqueira Campos, no Norte do Estado, Corbélia e Jesuítas, na região Oeste, alguns dos municípios beneficiados com o Programa.

 


Poços levam qualidade de vida às comunidades

A chegada dos equipamentos a lugares isolados é marcada por manifestações emocionantes dos moradores. A maioria dessas comunidades é abastecida apenas por minas de água que desaparecem a cada veranico (período de estiagem). Com a chegada dos poços, o cenário predominado por incertezas nas pequenas vilas rurais vai se modificando. A realidade ganha novos contornos com os jatos de água que brotam do interior da terra pela primeira vez.

Em Siqueira Campos, o Distrito de Gabiroba tem 170 propriedades e 60 delas dependiam da solidariedade da técnica de enfermagem do Posto de Saúde Ana Maria de Carvalho de Moraes. A servidora explica que com o crescimento populacional e a seca que assola o Estado, a água ficou cada vez mais escassa, também na sua propriedade. A Sanepar abastece as comunidades com caminnhões-pipa, mas ainda assim era preciso buscar água em locais distantes.

A enfermeira Ana relata que a equipe de perfuração chegou à comunidade como mensageira de uma nova perspectiva de vida. O primeiro jato de água que veio do subsolo foi recebido efusivamente por várias famílias que acompanhavam o trabalho.

A operação foi cercada por expectativas, pois o relevo atípico demandou cavar um poço mais profundo. Após perfurarem 280 metros a água surgiu sob os aplausos. Ela lembra que não faltaram orações e lágrimas de agradecimentos.

“Eles trabalharam no sábado o dia todo e nada da água aparecer. Só na segunda-feira, por volta das 15 horas, que começamos a ter esperança”, disse Ana. “As nossas minas supriam um pouco e foram secando. Desde que começou a seca, dependemos da Sanepar, pois a pouca chuva que caiu não resolveu. A nossa ansiedade era muito grande. E hoje agradecemos ao Governo do Estado e a toda a equipe do Instituto Água e Terra. Sem água não existe vida”, ressaltou a enfermeira.

Nem sempre a solidariedade está presente entre os moradores. Terezinha de Fátima Goes reside há 50 anos na comunidade. Ela e os vizinhos dependiam de uma mina nas imediações. Com a venda da propriedade onde estava localizada, precisavam percorrer quase 500 metros com os galões nas mãos. O novo proprietário, devido à escassez, negou o acesso à água.

“Carregávamos de um vizinho, quando secava íamos pedir para outro e rezávamos para Deus nos mandar chuva. Agora, temos o poço. No momento que deu água eu escutei a explosão lá de casa. Fiquei muito feliz. Água é tudo. Não tem como viver sem água”, disse.

Ainda em Siqueira Campos, na comunidade Água da Pedreira, os relatos também estampam a dificuldade da população com a falta de água. Ronaldo Lebedieff externa os problemas enfrentados. “Não havia água para banho e alimentação. As crianças sofriam, as criações não tinham onde beber água. Todas as famílias padeciam. Hoje, graças ao Estado, estão fazendo esse poço que vai suprir nossas necessidades”.

Ozana Ribeiro Felix, moradora há 29 anos na comunidade e proprietária de um restaurantena Vila Rural Wilson Fontanelli, lembrou com tristeza das dificuldades que estão enfrentando há muito tempo. “Esse povo sofre muito com a falta de água. Existem até brigas pelo uso daquelas minas que ainda não secaram totalmente. Espero que agora a gente possa desfrutar desse bem mais precioso que é a água”.

Raquel Trindade tem dois filhos e mora há dez anos na Vila Rural. Lembra que nos últimos três anos a vida foi difícil. “A gente tem crianças ainda pequenas e precisa buscar água longe. O sofrimento é muito grande. Agora as máquinas chegaram e a gente agradece a Deus por esse poço”, disse a mãe emocionada, enquanto acompanhava o trabalho da equipe.

Em Jesuítas, a perfuração de um poço sensibilizou a equipe que trabalhava no local. Iraci Calixto de Oliveira Ferre e Tercio Ferre moram há 40 anos na zona rural e a renda das atividades da pequena propriedade é complementada com a produção de rapadura e sorvete. Manter os animais e as duas pequenas fábricas tem sido um desafio desde que chegaram ali.

O quadro se repete com frequência. As minas secam com a chegada do calor e o uso da água precisa ser racionado. Frequentemente, falta até para cozinhar.

Quando viu a água saindo do poço recém-aberto, Iraci emocionou vizinhos e os técnicos da perfuração. “Eu vi a água subindo e chorei porque foi um milagre”, disse. “Agradeci muito a Deus e todos que trouxeram essa água. Não é fácil ficar sem, principalmente nessa pandemia. A gente sem água não é nada”, disse a pequena agricultora.

Ronye Pascoalatto é coordenador do Programa Água no Campo e vivencia tudo isso a cada perfuração. “Quando atingimos o lençol de água, onde falta para as coisas mais elementares, nos sensibilizamos. Nas pequenas comunidades rurais a mulher é que mais sofre no contexto do lar. Para nós que estamos no campo vivendo o dia a dia dessas mães de família é sempre uma grande emoção. As equipes comemoram junto”.

Parceria entre Estado, municípios e comunidade viabiliza os poços

O Instituto Água e Terra trabalha com três equipes compostas por 12 técnicos. São eles os responsáveis por avaliar se o local indicado pela prefeitura ou moradores é passível de encontrar água. Executam a perfuração que, às vezes, demanda dias de operação. Não há como prevera profundidade. A água pode estar a 60 metros como também em camadas mais profundas. Alguns poços podem alcançar até 280 metros no interior da terra.

PROGRAMA – O Água no Campo tem o objetivo de melhorar as condições de saúde e a qualidade de vida da população por meio de ações de saneamento básico. O poço, que dá acesso a aquíferos para retirada de água subterrânea, consiste na perfuração, revestimento, filtro, pré-filtro, motobomba e vedação. A viabilidade técnica de atendimento das solicitações cadastradas se dá por meio de contrato administrativo com as prefeituras.

O Instituto das Águas do Paraná participa com o equipamento de perfuração e equipe técnica. A prefeitura fica encarregada de definir o local da perfuração e pelo fornecimento dos tubos de revestimentos ou filtros, combustível (óleo diesel), areia, brita, cimento e custeio, além da regularização e operacionalização do poço.

Foto:SEDEST

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